sexta-feira, 20 de agosto de 2021

SÃO PESSOAS ~ Adriano Miranda e Paulo Pimenta

Monteiro, Tiago, Francisco, Maria, Bento, Isabel, Arlinda, Laurinda, Ângela, Conceição, Neide, Higínio, Bráulio, Natália, Sara, Ismael, Mayri, Aurélio, Paulo, Graça, Alexandre, Albina, António, Carolina, Antunes, Sérgio, Renato, Joaquim, Lúcia, Rita, Igor, Jaime, Sandra, Alex, Rafael, Dior, Teresa, São, Ana, Mário, Alice, Celeste, Cristina A todas as pessoas do mundo que todos os dias lutam pela sobrevivência. Tantas vozes nestas páginas. Reconheço algumas. Consigo ouvi-las na minha cabeça. A mais nítida, agora, é a de Neide Conceição. "Quando estou a passear com meu filho na rua, me perguntam: "É seu filho?" "Sim." "Mas como?" "Como é que fez um filho?" Por Amor de Deus! Não é por ter uma deficiência que não posso ter um relacionamento!..." Um Contraveneno Ana Cristina Pereira "Realmente entender o que andamos aqui a fazer e com isso parar o eterno sofrimento da incerteza.Poder acordar no dia seguinte com um pouco mais de tranquilidade." "Porque é que tem de ser o pobre a ter vergonha de ser pobre e o rico não tem que ter vergonha de ser rico?" "O dia a dia é complicado, quando não estou no atelier da instituição não há nada para fazer. Fica um vazio enorme, fico sem acção. Se não fosse a ajuda que me dão, já tinha ficado maluquinha." "Sabes o que é abrir o frigorífico e não ter nada lá dentro? Não sair de casa porque não tenho dinheiro para um café? Ir ao supermercado comprar um litro de leite e um pão, pois não tenho dinheiro para mais." "Às 8:30 recebo o RSI e às 9 pago o quarto. Fico logo sem dinheiro para o resto do mês. " "O dito país profundo, que começa à porta dessaa mesmaa cidades, encolheu, viu sair serviços e vê sumir gentes, sem que pareça haver solução para tão estranho problema em tão pequeno país. Se o pior parece já ter passado, sabemos também que dificilmente vamos recuprrar o que perdemos naqueles turvos anos." Neste turbilhão Camilo Soldado "Ninguém é coitadinho o suficiente para as penas da vida.Se as aves não tiverem a sensação de queda, como raio descobrirão a utilidade das suas asas?" "Quem se faz à vida, sabe o sacrifício que é estar a pedir, é uma ferida a abrir.Porque depois considera-se na sociedade que somos uns coitadinhos, não temos porque não queremos e na realidade não é assim." "A nível de sentimentos eu fiz muito mal.Magoei e ficou essa mágoa. Houve afastamento familiar.Neste momento é difícil a construção da família. Vivo sozinha numa pensão." "Passei fome porque tinha vergonha e sentia-me humilhada em pedir comida às instituições. " "A Albina e o António estão nestas páginas, nestes retratos que o Adriano transforma em arte como se estivesse só a comer pão com manteiga.Como se fosse fácil. E, por esta altura, tenho a certeza que eles já perceberam que o Adriano nunca os irá abandonar. Que enquanto uma nova fotografia deles e da sua vida suspensa for necessária, para lembrar que eles ainda esperam, ele estará lá para a fazer. As cezes que forem necessárias." Da perda e esperança Patrícia Carvalho "Quem trabalha com ele sabe como é. A procura obsessiva, a insatisfação, a urgênciade fazer sem pressa de terminar. Sabemo-lo no caminho certo por lhe conhecermos as dúvidas permanentes. O Paulo Pimenta fotografa como quem planta e, por causa disso, as imagens dele germinam em nós. Cheias de dor sem a explorar. Cheias de gente mesmo quando não a tem. Cheias de humanidade até quando a retrata do avesso." A invenção de começos pelo fotógrafo sem pontos finais Mariana Correia Pinto Este Livro foi lido no dia 19 de Agosto de 2021, de um fôlego só!!! Daniela João Portugal

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